é uma cor de passagem, no mesmo sentido em que se fala de ritos de passagem; e é, justamente, a cor privilegiada destes ritos, com os quais se operam as mutações do ser, segundo o esquema clássico de qualquer iniciação: morte e nascimento.
o branco do oeste é o branco mate da morte, que absorve o ser e o introduz no mundo lunar, frio e feminino; conduz à ausência, ao vazio nocturno, ao desaparecimento das cores diurnas.
o branco do este é o do retorno: é o branco da alvorada, de quando a abóbada celeste reaparece, vazia de cores ainda, mas rica do potencial de manifestação, de que o microcosmo e o macrocosmo se recarregaram (...).
um desce do brilho à opacidade, o outro sobe da opacidade ao brilho. em si mesmos, estes dois instantes, estas duas brancuras, estão vazios, suspensos entre a ausência e a presença, entre lua e sol,entre as duas faces do sagrado, entre os seus dois lados. todo o simbolismo da cor branca e dos seus usos rituais ressalta desta observação da natureza, a partir da qual todas as culturas humanas edificaram os seua sistemas filosóficos e religiosos.
um pintor como w. kandinsky, para quem o problema das cores ultrapassava largamente o problema da estética, exprimiu-se, sobre este tema, melhor que ninguém : o branco, que muitas vezes é considerado como uma não-cor ... é como que o símbolo de um mundo onde todas as cores, enquanto propriedades de substâncias materiais, se desvaneceram ... o branco actua sobre a nossa alma como o silêncio absoluto ... este silêncio não está morto, transborda de possibilidades vivas ... é um nada cheio de alegria juvenil ou, melhor dizendo, um nada anterior a qualquer nascimento, anterior a qualquer começo. talvez a terra tenha ressoado assim, branca e fria, no tempo dos glaciares. (...)"
in "dicionário dos símbolos" , jean chevalier & alain gheerbrant , 1ª edição em 1982
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