O elemento da ÁGUA e os seus simbolismos...
ÁGUA « As significações simbólicas da água podem reduzir-se a três temas dominantes: fonte de vida, meio de purificação e centro de regenerescência. Estes três temas encontram-se nas tradições mais antigas e formam as combinações imaginárias mais díspares, ao mesmo tempo que as mais coerentes.
As águas, massa indiferenciada, representam a infinidade dos possíveis, contêm todo o virtual, o informal, o germe dos germes, todas as promessas de desenvolvimento, mas também todas as ameaças de reabsorção.
Mergulhar nas águas, para delas imergir sem se dissolver totalmente, salvo por uma morte simbólica, é regressar às fontes, reabastecer-se num imenso reservatório de energia e dele beber uma força nova: fase passageira de regressão e de desintegração, condicionando uma fase progressiva de reintegração e de regenerescência.»
"quando mergulha-mos na água... em imersão ....todo o nosso corpo fica coberto, em contacto... abraçado. nada nos abraça em vida como a água"
BANHO « A virtude purificadora e regeneradora do banho é bem conhecida e atestada, tanto no profano como no sagrado, pelo seu uso claro em todos os povos, em todos os lugares e em todos os tempos. Podemos dizer que o banho é universalmente o primeiro dos ritos que sancionam as grandes etapas da vida, principalmente o nascimento, a puberdade e a morte. O simbolismo do banho associa os significados do acto de imersão e do elemento água.
A imersão é, para o psicanalista, uma imagem da regressão uterina. Satisfaz uma necessidade de repouso, de segurança, de ternura, de recuperação, sendo o regresso à matriz original um regresso à fonte da vida. A imersão, voluntariamente consentida, e que é uma espécie de enterramento, é a aceitação de um momento de esquecimento, de renúncia à sua própria responsabilidade, de um "pôr-se fora de jogo", de vacuidade. »
CASCATA «Contrapõe-se ao rochedo, no par fundamental (montanha e água), como yin e yang. O seu movimento descendente alterna com o movimento ascendente da montanha, o seu dinamismo alterna com a impassibilidade do rochedo. É o símbolo da impermanência oposto ao da imutabilidade. Apesar da cascata como entidade continuar, ela nunca permanece a mesma...
O filósofo Heráclito já tinha observado isto: num mesmo rio, jamais é a mesma água que corre; observação que ele coloca na base da teoria sobre a evolução perpétua dos seres e sobre o paradoxo do pensamento que pretende imobilizar as coisas que se movem em definições fixas.
As gotas de água que compõem a cascata são renovadas em cada segundo: o mesmo se pode dizer da manifestação, composto puramente ilusório, segundo o Budismo.
O movimento descendente da cascata significa igualmente o movimento da actividade celeste, proveniente do motor imóvel, portanto do Imutável, e manifesta as suas possibilidades infinitas: a água estagnada seria a imagem do que se manifesta imóvel, de onde partem todas as manifestações e onde elas acabam por ser reabsorvidas.»
"Vem banhar-te nas águas... mergulhar no rio... ficar nas cascatas... em imersão..."
RIO « O simbolismo do rio, do fluir das suas águas, é ao mesmo tempo o da possibilidade universal e o da fluidez das formas, o da fertilidade, da morte e da renovação. Num rio pode-se considerar quer a descida da corrente para o oceano, quer a subida da corrente até à nascente, quer a travessia de um lado para o outro.
A descida para o oceano é a reunião das águas, o regresso à indiferenciação, ao Nirvana; a subida é evidentemente o regresso à Fonte Divina, ao Princípio; a travessia é a de um obstáculo que separa dois domínios, dois estados: o mundo fenomenal e o estado de não-vinculação.
(...)Descendo as montanhas, insinuando-se através dos vales, perdendo-se nos lagos ou nos mares, o rio simboliza a própria existência humana e o seu curso: a sucessão dos desejos, dos sentimentos, das intenções... e a variedade dos seus desvios.
(...)Continuado a teoria de Heráclito: "aqueles que entram nos mesmos rios recebem a corrente de muitas e muitas águas e as almas exalam as substâncias húmidas". Platão utilizará uma fórmula mais breve, ao dizer : " não é possível entrar duas vezes no mesmo rio".
(...) No sentido simbólico do termo, penetrar num rio, é para a alma entrar num corpo. O rio adquiriu o significado do corpo.
(...) O corpo possui uma existência precária, corre como a água, e cada alma possui o seu corpo particular, esta parte efémera da sua existência, o seu rio.»
" E se vier chuva? ...
... A chuva trás consigo a possibilidade de um arco-íris."
CHUVA « A chuva é universalmente considerada como o símbolo das influências celestes recebidas pela terra. É um facto evidente que ela é o agente fecundador do solo, que dela obtêm fertilidade. Daí os inúmeros ritos agrários com vistas a chamar a chuva: exposição ao sol, apelo da tempestade através da forja, danças diversas... Mas esta fertilidade estende-se a outros domínios além do sol: Indra, divindade do raio, dá a chuva aos campos, mas fecunda também animais e as mulheres. O que desce do céu para a terra, é também a fertilidade do espírito, a luz, as influências espirituais.»
ARCO-ÍRIS « O arco-íris é caminho e meditação entre a terra e o céu. É a ponte de que se servem os deuses e os heróis entre o outro mundo e o nosso. (...) Na Escandinávia é a ponte de Byfrost; no Japão a ponte flutuante do céu; a escada das 7 cores através da qual Buda torna a descer do céu. a mesma ideia se encontra do Irão a África e da América do Norte à China. No Tibete o arco-íris não é propriamente a ponte, mas a alma dos soberanos que se ergue para o céu(...) o lugar de passagem.»
in "dicionário dos símbolos" , Jean Chevalier & Alain Gheerbrant , 1ª edição em 1982
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