"entre o azul e o amarelo, o verde resulta das suas interferências cromáticas. (...) Equidistante do azul e do vermelho infernal, ambos absolutos e inacessíveis, o verde, valor médio, mediador entre o calor e o frio, o alto e o baixo, é uma cor tranquilizante, refrescante, humana.
A cada primavera, depois do inverno ter convencido o homem da sua solidão e da sua precariedade, despindo e gelando a terra que habita, esta reveste-se de um novo manto verde, que traz consigo a esperança, ao mesmo tempo que a terra se torna alimentadora. (...) O verde é o despertar das águas primordiais, é o despertar da vida. (...)
(...) O verde é a cor da água, como o vermelho é a cor do fogo, e é por isso que o homem sempre sentiu, institivamente, que as relações entre estas duas cores eram análogas às da sua essência e da sua existência. (...) o desencandear da vida parte do vermelho e desabrocha no verde (...) vemos muitas vezes nesta representação a da complementaridade dos sexos: o homem fecunda a mulher, a mulher "alimenta" o homem; o vermelho é uma cor masculina, o verde uma cor feminina.
no pensamento chinês, é o yang e o yin, um macho, impulsivo, centrífugo e vermelho, o outro fêmea, reflexivo, centrípeto e verde; o equilíbrio de um e de outro, é todo o segredo do equilíbrio do homem e da natureza. (...) A expressão ficar verde, nascida da hipertensão provocada pela vida citadina, exprime também a necessidade de um regresso periódico a um ambiente natural, que faz do campo um substituto da mãe. (...)
(...) Estas maravilhosas qualidades do verde levam a pensar que esta cor esconde um segredo, que ela simboliza um conhecimento profundo, oculto, das coisas e do destino. (...) A virtude secreta do verde vem de ele conter o vermelho, tal como, para utilizar a linguagem dos hermistas e dos alquimistas, a fertilidade de toda a obra provém do facto de princípio ígneo - princípio quente masculino - animar o princípio húmido, frio, femenino.
em todas as mitologias, as verdes divindades da renovação hibernam nos infernos onde o vermelho quotidiano as regenera. Assim sendo, elas são exteriormente verdes e interiormente vermelhas, e o seu império estende-se pelos dois mundos. (...)
(...) Os alquimistas, na sua procura da resolução dos contrários, foram mais longe talvez do que vai a nossa imaginação . eles definem o seu fogo secreto, espírito vivo e luminoso, como um cristal translúcido, verde (...) é dele, diziam, que a natureza se serve subterraneamente, para todas as coisas que a arte trabalha, pois a arte tem de se limitar a imitar a natureza."
in "dicionário dos símbolos" , jean chevalier & alain gheerbrant , 1ª edição em 1982
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